Assistir a um filme é viver uma experiência sensorial completa que estimula nossos sentidos, desafia nossas crenças e convicções, e nos leva a explorar uma infinidade de emoções. O Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, o mais antigo e duradouro do país, traduz essa vivência única, permitindo-nos respirar cultura e refletir sobre suas mais intensas provocações, bem aqui, em nosso quadradinho.

Este evento é uma verdadeira propriedade de todos nós. Seu objetivo é incorporar na sociedade o direito fundamental de acesso à cultura, buscando sempre a fonte do que nos torna distintos e especiais em nossas existências, independentemente de nossa origem geográfica: as expressões artísticas e culturais.

Além de promover e apoiar a cultura, o festival também tem um impacto significativo na economia da cidade, funcionando como um importante centro de atividades econômicas e impulsionando a cadeia da economia criativa. Cada evento cria novos postos de trabalho, e cada cenário abre novas oportunidades.

Na sua 57ª edição, o festival se torna um abraço acolhedor, um símbolo de superação diante dos desafios que enfrentamos nos últimos anos. Assim, essa grande celebração trouxe uma experiência à altura de sua magnitude, com exibições em 4K, oferecendo o melhor padrão de qualidade para o público, artistas, produtores e profissionais do setor audiovisual.

Este ano teremos uma homenagem especial ao cineasta Vladimir Carvalho durante todo o festival. Homenagem esta que começou com a transformação do nome da sala de exibições do Cine Brasília em Sala de Cinema Vladimir Carvalho. Esse é o mínimo que poderíamos fazer para consagrar uma das figuras mais emblemáticas do cinema brasileiro, que nos presenteou com uma inestimável contribuição para o audiovisual do Distrito Federal.

Além de sua obra, Vladimir também desempenhou um papel fundamental na formação de novos cineastas e na criação de um espaço para o cinema de autor em Brasília, sendo uma referência para gerações de profissionais do audiovisual que o consideram uma verdadeira inspiração. Sua importância vai além da produção cinematográfica, tornando-o um dos pilares da cultura audiovisual do nosso quadradinho. Que o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro continue a prosperar, não só no coração da capital, mas também nas regiões administrativas. Que a arte e a cultura sigam como forças transformadoras e poderosas!

O Festival de Brasília é uma entidade anciã. Realizado há mais de cinquenta anos, é o mais antigo e tradicional festival dedicado ao cinema brasileiro, mas teve que se reinventar diversas vezes. Ao longo de sua trajetória, sempre resiliente (atravessou a Ditadura Militar e a pandemia), sofreu diversas modificações em seu formato, como reflexo da mudança do cenário político do país e da própria progressão dos modos de se fazer e pensar o cinema ao longo das décadas.

Sendo uma atividade prevista no calendário anual de grandes eventos da cultura brasileira e brasiliense, e tombado como Patrimônio Cultural Imaterial do Distrito Federal, teve sempre como principal desafio o de se realizar anualmente. E pela primeira vez, abrimos uma edição já com a garantia de que as próximas duas também serão realizadas, por uma mesma equipe, toda ela composta por um time de pessoas que amam e que já possuem, cada uma à sua forma, uma conexão com o Festival.

Ao longo de três anos, compreendemos a 57ª como uma edição de transição, de um modelo instável nos últimos cinco anos, para um panorama sólido, baseado na continuidade curatorial e de produção efetivamente provisionada. Estes são os ingredientes fundamentais para a realização de edições bem-sucedidas, ao lado de um planejamento estruturado, que preveja progressivamente o reposicionamento estratégico do Festival no calendário de grandes festivais nacionais.

Ter uma janela cada vez mais ampla e representativa para a safra anual de filmes reforça também a responsabilidade que o Festival tem, ao mobilizar recursos substantivos para sua realização, em abarcar cada vez maior potencial de tela e de visibilidade para o cinema nacional. Mais filmes, mais salas e mais locais de exibição são parte estruturante dessa vocação.

Tal responsabilidade se estende a ampliar o circuito fora do Plano Piloto, abraçando todo o Distrito Federal, mas também potencializar o Cine Brasília como polo de atividades ligadas ao cinema e ao audiovisual, num projeto arquitetônico inédito, que incorpora espaços para a realização das atividades do 6º Ambiente de Mercado e da 4ª Conferência do Audiovisual.

Coroando a edição, Zezé Motta nos brinda com seu talento e inspiração, bem como nos inspiram cada uma das personalidades homenageadas, cada filme em exibição, cada debate, cada encontro. Dedico essa edição ao mestre Vladmir Carvalho, que nos deixou esse ano, mas cujo legado e presença serão eternos. Essa é uma edição de celebração do futuro e da memória.

Reassumir a direção artística do Festival de Brasília, cargo que tive a honra de ocupar entre os anos de 2016-2018, seria sempre um desafio, em qualquer momento. No entanto, se pensamos em tudo que o país e o mundo viveram entre os anos que separam aquele momento de hoje, este desafio se mostra infinitamente maior. Afinal, como o cinema brasileiro refletiu sobre esse período de grande turbulência social e política, em meio a todas as crises que nos atravessaram (pandemia, catástrofes climáticas, incertezas tecnológicas, etc)?

Se o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro tem o orgulho de ser feito no nosso país estampado no seu nome, sua constituição enquanto programa de filmes precisa tentar refletir a multiplicidade extrema que constitui este cinema nacional tão rico que temos. Com um olho sempre voltado com muita atenção para o passado que nos trouxe até aqui, com homenagens e projeções de clássicos e filmes sobre essa história, este é também um festival firmemente ancorado no presente, seja o da nossa produção audiovisual, seja o do nosso país. Pois é este presente que acredito que o conjunto dos filmes exibidos pelo Festival em 2024 pode testemunhar, acima de tudo – e que ver isso possa nos ajudar a olhar para futuros múltiplos, de preferência aqueles mais generosos.

Finalmente, é essencial dedicar essa edição a Vladimir Carvalho, um destes nomes sem os quais a história desse Festival não existiria – mas que, seja em qual idade de vida estivesse, nunca deixou de falar do presente, olhando sempre para o futuro. Devemos a ele seguir nessa mesma missão.