Esta edição de 60 anos do Festival de Brasília ocorre em momento singular, quando se afirma o direito à autodeterminação do Brasil e de seu povo, enquanto pressões comerciais tentam colocar em xeque nossa economia e instituições democráticas. Com sua tradição de pensamento crítico, o Festival realiza mais uma Conferência Audiovisual, partindo da premissa de que a soberania cultural é base da soberania política e econômica.
Este ano foi marcante para o cinema nacional: conquistamos o primeiro Oscar de filme internacional, o Globo de Ouro de melhor atriz e prêmios em Cannes e Berlim, além de lançamentos que reconectaram o público às salas no pós-pandemia. Porém, para que esse momento perdure, é preciso enfrentar desafios históricos ainda não superados.
Na edição passada, a palavra-chave foi soberania, antecipando os debates de agora. Trata-se do direito de produzir memória e imagens sobre nós mesmos e de disputar um território estratégico na geopolítica contemporânea, pelo PIB, empregos e influência cultural que o audiovisual gera. Nesse contexto, o cinema brasileiro trava uma luta histórica para ocupar suas próprias telas, em um mercado pouco regulado. Os recentes prêmios internacionais deveriam ser vistos como convite a políticas estruturantes e industriais, e não apenas objeto de reconhecimento simbólico.
Muitas vezes no passado, o audiovisual foi tratado como moeda de troca, preterido em favor de outras indústrias. Ainda hoje, falta regularidade e previsibilidade, e muitos filmes chegam ao mercado sem estratégia de comercialização. As políticas públicas seguem concentradas na produção, sem contemplar o ecossistema completo que envolve desenvolvimento, distribuição e exibição.
Temos onde buscar inspiração. A cota de tela de Vargas, a Embrafilme e, mais recentemente, a criação da Ancine, do FSA e da lei da TV paga, marcos de afirmação soberana. No entanto, seguimos atrasados na regulação do VOD, e o risco do Brasil ser relegado a mero mercado de consumo. A demora de mais de uma década em regular o streaming torna o tema urgente diante da desindustrialização e precarização já visíveis. Políticas baseadas apenas em fomento não têm sido capazes de reverter esse processo.
A conferência se realiza buscando pensar além de uma lógica de “editais”: temas estruturais como o impacto da inteligência artificial nos direitos autorais, a TV 3.0, o enfraquecimento dos circuitos exibidores, a qualificação das políticas federativas, e, sobretudo, a regulação do streaming.
Sem políticas claras e eficazes, recursos isolados não garantem desenvolvimento. Urge, portanto, um diagnóstico consistente, planejamento efetivo e incidência qualificada no debate sobre o futuro do audiovisual. E finalmente discutir o lugar que o setor ocupará no futuro do país, questão ainda em aberto. E especialmente pertinente antes de um ano eleitoral, quando o audiovisual precisará, mais uma vez, afirmar sua voz.
Equipe Conferência Audiovisual
Grupo de trabalho da Conferência
Neste momento em que o Brasil afirma sua soberania política e econômica, deve-se falar em soberania cultural. O Brasil é o segundo maior mercado de consumo para estas plataformas que operam aqui sem pagar condecine e sem regras mínimas de programação. Nesse contexto, a regulação do streaming, atrasada em 10 anos, é uma pauta inadiável. Num mundo cada vez mais mediado pelas imagens, o audiovisual é um tema estratégico e incontornável, em que o Brasil deve afirmar sua voz e suas regras. Como sensibilizar os três poderes para que deem tratamento estratégico ao tema? Quais as premissas fundamentais dessa regulação? Como garantir uma regulação justa e a altura do Brasil e dos desafios da indústria audiovisual brasileira?
• Andre Sturm – SIAESP – Sindicato da Indústria de Audiovisual do Estado de São Paulo
• Érika Alvarez – Gerente de políticas públicas do YouTube.
• Gabriel Pires – CONNE – Conexão Audiovisual do Centro-oeste, Norte e Nordeste
• Jandira Feghali – Deputada Federal
• Lúcia Murat – Cineasta
• Joelma Gonzaga – Secretária do Audiovisual do MinC/SAv
•Minom Pinho – APACI – Associação Paulista dos Cineastas
•Vinicius Clay – ANCINE – Agência Nacional do Cinema
Mediação: Gabriel Portela – Especialista em políticas para o audiovisual
A Inteligência artificial vem impactando sensivelmente o setor audiovisual. Tornando ágeis tarefas que antes eram mais complexas, facilitando e encurtando caminhos, ao mesmo tempo, a IA coloca em risco funções criativas e processos humanos que são centrais no desenvolvimento criativo, especialmente entre os trabalhadores. Ao mesmo tempo desconsidera os direitos autorais e coloca desafios na regulação e proteção dos autores e criadores. O Brasil, país periférico, vem sendo desafiado a apresentar uma clara estratégia de como se apropriar e regular esta tecnologia no que diz respeito a cultura e o audiovisual.
• Abel Vargas – Artista e Supervisor de Computação Gráfica
• Hugo Valadares – Diretor de Ciência e Tecnologia – MCTI e Coordenador do plano brasileiro de IA
• Paula Vergueiro – Advogada
• Paulo Barcellos – O2 Filmes
• João Brandt – Secretário de Políticas Digitais da Secom
Mediação: André Mielnik ABRA – Associação Brasileira de Roteiristas e Autores
As empresas que cresceram no impulso da Lei de TV Paga hoje enfrentam um paradoxo: conseguem realizar produtos que em qualidade rivalizam com empresas globais, ao mesmo tempo, vem sendo fragilizadas por políticas sem critérios econômicos e por falta de regulação. Como incorporar definitivamente o audiovisual como política industrial?
• Andrea Barata – O2 Filmes
• Bruno Wainer – Downtown Filmes
• José Joffily – Diretor e Roteirista
• Manoel Rangel – Paranoid Filmes
• Uallace Moreira Lima – Secretário de Desenvolvimento Industrial, Inovação, Comércio e Serviços
Mediação: Alfredo Manevy – Conselho Superior de Cinema
O circuito exibidor, compreendendo as salas de cinema e os canais de televisão dedicados ao conteúdo nacional, são essenciais para a formação de público e a viabilidade econômica da atividade audiovisual. Em anos recentes, esse circuito tem sofrido com a pandemia e com a falta de uma política estratégica para o circuito exibidor, hoje muito concentrado em poucas cidades. Parte do circuito tem tido dificuldade de sobreviver, seja porque os filmes chegam sem promoção e sem estratégia de comercialização capaz.de disputar os espectadores, seja porque as audiências mudaram de hábitos. Os canais super brasileiros por sua vez tem dificuldades de se manter no novo ambiente do streaming, sem regras e políticas específicas e os festivais, por sua vez, atravessam por um momento difícil pela ausência de linhas específicas de incentivo. Tudo isso impacta sobremaneira o cinema brasileiro e o espaço de tela potencial para nossos filmes.
• Daniella Fernandes – Secretaria de Audiovisual do Ministério da Cultura
• Gonzaga De Luca
• Jack Silva – AExib – Associação dos Exibidores Brasileiros de Cinema de Pequeno e Médio Porte
• Marcio Blanco – Fórum dos Festivais de Cinema
• Patrícia Barcelos – Ancine – Agência Nacional do Cinema
• PH Souza – ABRACI -Associação Brasileira de Cineastas
• William Alves – Festival Taguá de Cinema
Mediação: Daniela Marinho – Cine Brasília
A convergência entre radiodifusão e internet está transformando profundamente o ecossistema da difusão audiovisual, tanto canais privados quanto o campo público de TV. A chegada da TV 3.0 e o crescimento dos canais FAST (Free Ad-supported Streaming Television) trazem à tona um novo cenário de canais lineares no ambiente digital, redesenhando o papel da TV.
Mais do que uma questão de infraestrutura, esses avanços abrem um novo campo de oportunidades para o licenciamento de obras, a produção independente e a diversificação de janelas de exibição no ambiente público e privado. No entanto, o debate ainda é limitado, sobretudo no que diz respeito ao campo regulatório e às estratégias de fomento à ocupação desses espaços por conteúdos nacionais.
Como os conteúdos estão sendo ofertados nesse novo ambiente? Quais modelos de negócio emergem para produtores, canais e plataformas? Como garantir que a TV conectada também seja um vetor de valorização da produção brasileira independente?
• Andre Basbaum – Presidente da EBC – Empresa Brasil de Comunicação
• Maurício Santos – Gerente de Programação em Exibição e Inovação em TV / TV Globo
• Octávio Pieranti – Conselho Diretor da ANATEL – Agência Nacional de Telecomunicações
• Paulo Alcoforado – Ancine – Agência Nacional do Cinema
Mediação: Marco Altberg – BRAVI – Brasil Audiovisual Independente
Os países que lideram a produção audiovisual no mundo combinam políticas nacionais robustas com estratégias regionais e locais bem estruturadas. No Brasil, o fortalecimento do audiovisual passa pela atuação coordenada da União, dos estados e dos municípios. Quais estratégias e políticas estão sendo executadas para garantir a diversidade e o desenvolvimento econômico do audiovisual nos estados e municípios brasileiros? E qual os papéis dos entes federados dentro de uma estratégia nacional de desenvolvimento do audiovisual? – sinalizar a responsabilidade dos estados e municípios – modelos mais equilibrados e boas práticas. As políticas estaduais e municipais devem contar com um FSA forte e robusto, capaz de catalisar as iniciativas locais.
• Danielle Barros – Presidenta do Fórum Nacional de Secretários Estaduais de Cultura e Secretária de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro
• Fabrício Noronha – Secretário de Cultura do Espírito Santo
• Felipe Dias – Diretor de Economia Criativa na Secretaria de Cultura e Turismo de Salvador
• Leo Edde – Rio Filme
• Lyara Oliveira – Spcine – Empresa de Cinema e Audiovisual da Cidade de São Paulo
• Marcelo Assis – Secretário adjunto ou sub-secretário de Cultura do Estado de São Paulo
• Pola Ribeiro – Bahia Filmes
Mediação: Gabriel Portela