Na 57ª edição, o Festival de Brasília celebra uma história de vida que se mistura às do teatro, da TV e do cinema brasileiros. Aos 80 anos de idade, com 60 de carreira, 55 filmes estrelados, mais de 50 produções para TV e 14 álbuns lançados, a atriz e cantora Zezé Motta recebe em 2024 o troféu Candango pelo conjunto de sua obra.
“Uma mulher, uma beleza que nos aconteceu” – como bem diz Caetano Veloso quando a homenageia em “Tigresa” (1982) – e acontece ainda hoje, com presença definitiva no imaginário da cultura nacional. Fluminense de nascença, carioca de criação, filha de pai motorista e músico, e mãe costureira, interessa-se pela música primeiramente, inspirada pelo pai e as vozes de cantoras do rádio.
Inicia a formação teatral no Tablado, com a dramaturga Maria Clara Machado e estreia profissionalmente aos 21, sob a direção de José Celso Martinez Corrêa no espetáculo Roda Viva. Segue em cena até os dias atuais, apresentando-se em espetáculos e shows musicais, e dedicando-se a interpretar papeis para a TV, o cinema e o teatro.
Fundamenta sua importância para o cinema brasileiro em “Xica da Silva” (1976), de Cacá Diegues, quando vence o troféu Candango de Melhor Atriz no Festival de Brasília de 1975 – arrebatando todos os olhares daquela edição – e leva mais de três milhões de espectadores aos cinemas, tornando-se conhecida em todo o país.
Com Cacá, segue filmando em “Quilombo” (1984), “Dias Melhores Virão” (1990), “Tieta do Agreste” (1996) e “Orfeu” (1999). Também é dirigida no cinema por Nelson Pereira dos Santos, Hugo Carvana, Paulo César Saraceni, Arnaldo Jabor, Paulo Caldas, e, nas últimas duas décadas, por Sérgio Bianchi, Tomas Portella e Jeferson De.
Na TV faz inúmeras novelas, com destaque para “Beto Rockfeller” (1968), sua estreia no formato, “Corpo a Corpo” (1984), “A Próxima Vítima” (1995), “Corpo Dourado” (1998), “Sinhá Moça” (2006), “O outro lado do paraíso” (2017) e “Sob Pressão” (2017). Nos canais de streaming, brilha em séries como “3%” (2016), “Arcanjo Renegado” (2020) e “Fim” (2023).
Através da música, percorre o mundo. Lança seu primeiro álbum em 1978. De imediato, não se deixa enquadrar pela indústria no samba no samba somente por ser negra – algo comum para os anos 1970 e 1980, mas reconhece este legado ancestral e abraça o estilo tão brasileiro ao longo de toda a carreira musical: a ponto de ser homenageada como enredo de escola de samba quatro vezes.
Zezé Motta impõe um debate ao longo de toda sua trajetória sobre os papeis concedidos às pessoas pretas na TV e cinema brasileiros, tendo ela mesma vivido inúmeras empregadas domésticas na ficção e recusado inúmeros personagens em TV e cinema por encabeçar uma luta de reconhecimento identitário das narrativas negras.
Este compromisso incansável com o movimento negro está presente em todos os seus passos: seja nos esforços de catalogar a memória das contribuições negras para as artes brasileiras – quando funda o Centro de Informação e Documentação do Artista Negro (1984) – seja ao evidenciar questões raciais em todos seus posicionamentos de vida e carreira.
“Uma tigresa de unhas negras e íris cor de mel”. Ou como bem registrou em suas linhas a amiga Lélia Gonzalez em 1984, “uma mulher extraordinária, temperada por muita luta e sofrimento, generosa enquanto companheira, filha, irmã, esposa, amiga. Para além da imagem, da estrela Zezé Motta, o que vamos encontrar, na verdade, é uma mulher MULHER”.
A medalha Paulo Emílio Salles Gomes foi criada na 50ª edição do Festival de Brasília e reverencia as contribuições de nomes ilustres do audiovisual brasileiro na luta pela preservação da memória do nosso cinema. Em 2024 o homenageado é João Luiz Vieira, professor titular do Departamento de Cinema e Audiovisual e do Programa de Pós-Graduação em Cinema e Audiovisual da Universidade Federal Fluminense – UFF.
Pesquisador, curador, conferencista, autor e organizador de inúmeros livros, ensaios e textos críticos publicados no Brasil e no exterior, com destaques para “Cinema Novo & Beyond” (MoMA, 1998), “Câmera-faca: o cinema de Sérgio Bianchi” (2004), entre outros, além de capítulos em “Nova História do Cinema Brasileiro” (2018) e, mais recentemente, em “Por um cinema de cordel: um livro de Sérgio Muniz” (2024).
O prêmio Leila Diniz também foi criado na 50ª edição do Festival de Brasília para homenagear mulheres cuja prática e trabalhos marcaram a história do cinema brasileiro, na frente ou atrás das câmeras. Na 57ª edição, o prêmio celebra a carreira e profissionalismo de Sara Silveira, talento incontestável do audiovisual nacional.
Fundadora da Dezenove Som e Imagens Produções, com Carlos Reichenbach, atua na produção de filmes desde 1982, trabalhando ao lado de Laís Bodanzsky, Anna Muylaert, Beto Brant, Esmir Filho, Marcelo Gomes, Marina Person, Felipe Hirsch, Daniela Thomas, Juliana Rojas, Marco Dutra, Caetano Gotardo, o próprio Reichenbach e outros. Entre os filmes de maior sucesso estão “Alma Corsária” (1994), “Bicho de Sete Cabeças” (2000), “Cinema, aspirina e urubus” (2005), “Trabalhar cansa” (2011), “Vazante” (2017) , “Todos os Mortos” e “Cidade; Campo” (2024).
A edição 57 do Festival de Brasília presta tributos a duas personalidades do cinema brasileiro e candango: Mallú Moraes e Vladimir Carvalho.
Mallú Moraes viveu uma vida de contribuições ao cinema candango. Professora da UnB, atuou ao lado do marido até 2009, o diretor Geraldo Moraes, criando figurinos, atuando e cenografando sets para seus filmes. Batalhou em prol de políticas e perspectivas para o audiovisual, e participou de filmes como “Senhoras”, de Adriana Vasconcelos, e “Doce de goiabada”, de Fernanda Rocha. Também teve carreira na música, dando vida a composições dos irmãos Clodo, Climério e Clésio Ferreira. Seu legado segue na obra dos filhos Bruno Torres e André Moraes.
Morador do DF desde os anos 1970, Vladimir Carvalho imprimiu a sua marca na história dos cinemas brasileiro e brasiliense, registrando de forma atemporal a memória do nosso país. Documentarista, ele foi responsável por uma verdadeira revolução do gênero ao qual dedicou sua carreira.
Seu trabalho esteve presente no Festival de Brasília em diferentes momentos Seja com “O País de São Saruê”, que teve exibição censurada pela ditadura em 1971 e somente foi apresentado no Festival 1979, quando venceu o Prêmio Especial do Júri, ou com “Conterrâneos Velho de Guerra” (1990), aclamado entre os títulos daquela edição. Vladimir Carvalho será sempre lembrado por quem faz cinema em Brasília e no Brasil.
HOMENAGEM A DOIS DOCUMENTARISTAS: DELVAIR MONTAGNER E VLADIMIR CARVALHO
Em meados de setembro
De dois mil e vinte e quatro
Convocamos eleições
Pra escolher homenageados
No fim, dois documentaristas
De renomado trabalho
Delvair Montagner e
Vladimir Carvalho!
Infelizmente o nosso mestre
Partiu antes de estar aqui
Nesta bela cerimônia
Junto à grande Delvair
Mas foi escolhido em vida
Para receber o prêmio
Que homenageia o doc
Em um encontro de gênios!
As histórias de Brasília
Tão bem contadas por Vlado
Bem como à revelia
Belos povos torturados
Delvair retratou indígenas
Quilombolas e Assentados
E até mesmo a Pré-História
Ela tem nos relatado!
O resgate da história
E sua preservação
Como o Cinememória
Que retrata uma nação
Tem função documentária
De obras tão humanitárias
Mas precisa do Estado
Para ser bem preservado!
Conterrâneos Velhos de Guerra
Pauta em prol das minorias
A Demarcação de Terra
Do Brasíndio a Itapajé
Ouro Negro da Floresta
Do babaçu, a mulher
Teus Passados são Presentes
Carvalho e Montagner!
Num País de São Saruê
Quando o Rock Era de Ouro
A cultura é o tesouro
Pequi em Mapulawache
Ouro Negro da Floresta
E outras tradições à bessa
Retratadas por vocês!
Vou aqui me despedir
E continue a prosseguir
Com sua obra, Delvair
Que o Vento vai reagir
E nunca vamos esquecer
De seu legado, Vladimir
Cabra marcado pra viver!
(Por Péterson Paim – Presidente ABCV 2023/2025)
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